O ritual neste sábado de sol forte no gramado da sede do Botafogo, no Rio de Janeiro, era o mesmo das decisões de torneios de futebol pelo mundo: palco, medalhas, troféus, chuva de papel picado e muita comemoração. Mas no caso da Copa Coca Cola 2012, competição nacional que reuniu 584 times com adolescentes entre 13 e 16 anos, estava em jogo algo tão ou mais especial do que um título: ser gandula na Copa das Confederações em junho do próximo ano. Após quatro meses de muita bola rolando em 29 cidades de 17 estados, 224 garotos e garotas foram qualificados para fazer parte do treinamento que será ministrado pela Fifa.
Marta entre os times campeões da Copa Coca Cola (Foto: Leonardo Filipo / Globoesporte.com)
Quem chegou às finais no Rio já estava dentro, pois os campeões regionais garantiam a qualificação. Herói do Scouto Esporte Clube, de Foz do Iguaçu, ao defender duas cobranças na decisão por pênaltis da final masculina contra o Projeto CAE, de Caxias do Sul, Lucas comemorava não só o título, mas a possibilidade de trabalhar na Copa das Confederações.
- Ser gandula foi um grande estímulo para nós. Todo mundo que ficar perto dos grandes jogadores do mundo. Quero entregar bolas para o Daniel Alves cobrar lateral, para o Neymar... – projeta o goleiro, que ano passado foi dispensado do Coritiba.
Catador de latinhas entre os gandulas
João Paulo ao lado do treinador, Vilmar Scouto
Há pouco tempo ficar perto dos craques planetários era algo distante para João Paulo, atacante reserva do time campeão. Emocionado, o garoto de 14 anos e de chuteiras castigadas mal conseguia falar depois da conquista do título. Nos estádios de Foz, ele ajuda a mãe a vender pipoca e cerveja. O pai, pedreiro, também ganha pouco. O time costuma vender rifas para levantar dinheiro para competir. João Paulo sempre é o primeiro a esgotar os bilhetes. Se precisar, cata até latinha.
- Pensei na minha vida - disse, justificando os olhos marejados.
Minutos depois de conquistar o título feminino com o Coritiba Cancun, a lateral-esquerda Mayara Almeida soube, através de seu treinador, de uma sondagem para fazer parte da primeira seleção brasileira feminina sub-15. A menina de 13 anos não se abalou. Manteve o semblante sério. O sorriso só saiu quando ela se imaginou trabalhando como gandula na Copa das Confederações.
Minutos depois de conquistar o título feminino com o Coritiba Cancun, a lateral-esquerda Mayara Almeida soube, através de seu treinador, de uma sondagem para fazer parte da primeira seleção brasileira feminina sub-15. A menina de 13 anos não se abalou. Manteve o semblante sério. O sorriso só saiu quando ela se imaginou trabalhando como gandula na Copa das Confederações.
- Queria entregar a bola para alguém do Barcelona. Pode ser o Iniesta – planeja Mayara, que marcou um dos gols na vitória por 4 a 3 na decisão por pênaltis da final contra a Aliança de Brasília, após empate sem gols.
Marta dança com as campeãs e o mascote da Copa do Mundo (Foto: Leonardo Filipo / Globoesporte.com)
Os sorrisos de Mayara prosseguem quando ela fala de Marta, madrinha da competição e cuja presença causou frenesi nas garotas. Dentro da área VIP, a melhor jogadora do mundo por cinco anos seguidos tentava se desvencilhar do assédio dos jornalistas para prestar atenção ao que acontecia no gramado. De olho da bola rolando, ela comparou sua época com a atual:
- Quando eu era criança em Maceió não havia esse tipo de competição para meninas. Tínhamos que jogar contra os garotos. E a única categoria de base da seleção feminina era a sub-19. É muito bom vê-las vibrando nas vitórias e sentidas nas derrotas. E também muito bom saber que sou referência para elas – disse Marta.
Marta ao lado de Mayara: referência das meninas
Além do troféu, os campeões masculino e feminino vão ganhar um campo de futebol em suas cidades. Sobre a formação dos gandulas, ainda não há uma data certa para o início da preparação. O certo é que eles passarão por testes físicos e terão a saúde monitorada por exames médicos, supervisionados pela Coca Cola. Entre os mandamentos do bom gandula, está o de repor a bola com rapizez e evitar o deslumbramento com as partidas e as festas nos estádios.
Fonte: Globoesporte.com
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