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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Ameaçado de suspensão pela Uefa, Milan tenta calar agente brasileiro


Uma dívida de quase R$ 900 mil pode tirar o Milan das competições europeias na próxima temporada.

O time, que ocupa atualmente a 3º colocação no Campeonato Italiano, está na mira de um processo protocolado pelo Botafogo-SP na Uefa e na Fifa que cobra o pagamento da indenização por formação do jovem jogador Sergio Ceregatti, revelado no clube do interior paulista e que desembarcou em Milanello em 2010.

Serginho, como é conhecido, chegou a atuar pelo Ancona antes de se transferir para o Milan. Ele viajou até o Brasil para passar as férias de Natal em dezembro de 2011 e, segundo informações vindas de San Siro, não retornou mais após o período.

O meio-campista deixou para trás o futebol italiano e também uma briga nos tribunais que se arrasta desde maio de 2012 e que agora coloca sob ameaça a classificação de Balotelli e companhia para a Champions League em 2013/14.

O Botafogo-SP encaminhou o caso para a Fifa, mas aposta mesmo na Uefa para acelerar uma definição em torno de sua reclamação formal. Mesmo não contando com um órgão para deliberar assuntos dessa esfera e forçar o pagamento da dívida, a entidade europeia obriga os filiados a estarem em dia com seus compromissos financeiros para liberar a sua licença anual – incluindo não só transferências, mas também salários, impostos e mecanismo de solidariedade.

O processo, que poderia demorar até três anos para ser resolvido na Fifa, deve conhecer o seu desfecho nas próximas semanas através da Uefa.

“Um colega contou que vinha tendo sucesso em todos os seus casos na Uefa e me deu essa dica. A Uefa não é a Fifa, não tem um tribunal ou poder de decisão, mas os clubes têm que honrar com suas obrigações. Se eles acharem que tem fundamento, mandam a carta e pronto”, afirma o advogado Fernando Lamar ao ESPN.com.br. “Ou vocês pagam ou perdem a licença. Em 80% dos casos funciona. É uma estratégia nova e que deve vingar”, completa.

Lamar representa o Vasco e outros times pelo País. Ele é responsável por providenciar toda a documentação referente ao pedido do Botafogo-SP e atua em parceria com o agente brasileiro Paulo Teixeira, residente em Portugal e que acumula experiência na briga contra equipes europeias por indenizações por formação.

ESPN.com.br obteve com exclusividade documentos que incluem troca de mensagens entre as partes e até mesmo ofícios enviados pelos clubes para as entidades.

Depois de pagar 61.250 euros (aproximadamente R$ 158 mil) em maio de 2011 ao escritório de advocacia Lamar Simão Advogados Associados, nomeado pelo Botafogo-SP para receber a quantia, de acordo com um dos documentos, o Milan se nega a responder a uma revisão do período de formação de Sergio Ceregatti solicitada pelo time paulista.

Ao invés de sete meses, como previamente informado, Serginho teria passado, na verdade, quatro anos nas categorias de base da equipe de Ribeirão Preto. O dado é confirmado em carta assinada pelo diretor do departamento de registros e transferências da CBF, Luiz Gustavo Vieira de Castro, e também tem o amparo do próprio jogador e da federação paulista.

Em um fax de quatro páginas enviado ao empresário Paulo Teixeira por seu diretor financeiro Massimo Campioli, o Milan repassa todo o histórico da batalha, afirma que ‘em nenhum momento, foi dito, escrito, mencionado ou mesmo sugerido que o pedido poderia ser parcial’ e chega a ironizar a cobrança de mais 298.750 euros (cerca de R$ 900 mil) pelo Botafogo-SP (leia mais abaixo).

“Me desculpa, mas a resposta do Milan foi totalmente ridícula. Eles alegam um monte de coisa sem comprovar nada”, comenta Fernando Lamar. “O que fizemos é totalmente normal. Às vezes não consta no registro do atleta o período inteiro de formação. Está previsto no regulamento da Fifa que, caso não se consiga provar a inscrição, o próprio jogador pode auxiliar na comprovação”, prossegue.

“90% dos clubes pagam quando a Uefa cobra. É um problema de ego, o cara fica vaidoso e não quer pagar porque é o Milan. Achavam que são donos do céu. Com os ingleses, não tem essa dificuldade” complementa Paulo Teixeira.

Em nenhuma das oportunidades, a equipe italiana atendeu ao que pede a Fifa e procurou o clube formador para acertar a indenização.

ESPN.com.br
O diretor financeiro do Milan ironizou o novo pedido dos brasileiros
O diretor financeiro do Milan ironizou o novo pedido dos brasileiros
Milan tenta silenciar empresário

"Pelo caminho normal, o Botafogo-SP estava morto”, analisa Paulo Teixeira.

O agente brasileiro não enxergava alternativa. Segundo ele, a única opção para tentar sensibilizar as autoridades a respeito dos casos de ‘calotes’ dos grandes europeus contra sul-americanos e africanos era através de redes sociais. Chamado pela CNN de ‘caçador de prêmios’ em uma reportagem, começou, então, a detalhar seus processos em uma página no Facebook e enviar e-mail para uma lista de quase 5 mil endereços.

Um desses processos relatados envolvia o Milan e o meia Sergio Ceregatti.

Foram diversos posts escritos sobre o pedido de indenização do Botafogo-SP pela formação do atleta. O empresário incomodou. Tanto incomodou que os dirigentes italianos resolveram levar o caso à Fifa em junho de 2012.

Em documento assinado por seu vice-presidente Adriano Galliani e pelos advogados Leandro e Lorenzo Cantamessa ao qual o ESPN.com.br teve acesso, o Milan pedia a suspensão do agente sob o argumento de que ‘ele dissemina falsos fatos, insultos e difamação – e às vezes ameaças – contra a equipe e seus representantes jurídicos’. Até aquela altura, de acordo com as contas apresentadas no ofício, tinham sido espalhados pelo brasileiro mais de 10 e-mails e mensagens no Facebook.

Paulo Teixeira não nega e reforça que a estratégia era legal.

“Em meus e-mails, copio o (Ariedo) Braida, o (Massimo) Campioli, o (Filippo) Galli e quem mais puder. O Silvio Berlusconi controla a mídia na Itália, mas não controla a internet. A Fifa também não. Sou formado em jornalismo. Não escrevo uma linha se ela não tiver sustentação”, explica.

A Fifa não entendeu assim. No final de dezembro, a entidade anunciou a suspensão de sua licença por dois meses e uma multa de 8 mil euros (aproximadamente R$ 20 mil). Foi o primeiro membro da ‘família do futebol’ a ser punido pelo uso das redes sociais.



O Milan, com o auxílio do Anderlecht, que acompanhava o processo, enfim, conseguia calar o agente brasileiro.

Não por muito tempo. Mesmo com ameaças de processo, Paulo Teixeira voltou a postar sobre esse e outros assuntos depois. Atualmente, o empresário cuida de outros cinco casos que totalizam um valor em indenizações por formação de 1 milhão de euros (R$ 2.580 milhões).

“Estamos dando com o Botafogo-SP um exemplo de que nenhum clube deve baixar a guarda diante dos poderosos. Essa é a mensagem que é importante passar. Fizemos o trabalho do Milan. Eles subestimaram a nossa capacidade, pensam que somos terceiro mundo. Agora vão ter que pagar”, conclui.

ESPN.com.br
O Milan se mostrou incomodado com os comentários de Paulo Teixeira na internet
O Milan se mostrou incomodado com os comentários do agente Paulo Teixeira



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