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sábado, 30 de março de 2013

Arena Fonte Nova



“Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”. Conhecida frase de Octávio Mangabeira, ex-governador da Bahia e que dá o nome original da Arena Fonte Nova. Certamente, Mangabeira gostaria que seu nome estivesse totalmente longe da confusão ocorrida na última sexta-feira, na venda de ingressos para o BaVi de reinauguração do estádio.
Problema de logística? Sim. De segurança? Também. De educação dos torcedores? Lógico. Um conjunto de fatores que fizeram do episódio um dos mais patéticos do futebol da Bahia nos últimos anos. O consórcio, subestimando talvez a população soteropolitana, não promoveu a organização necessária para a venda dos bilhetes. O resultado foi a ausência de filas, a impaciência de muitos, a ação muitas vezes truculenta da polícia e até a esperteza de alguns operários, praticando o cambismo na famosa “cara dura”.
Muito se discute a tradição do posicionamento das torcidas de Bahia e Vitória na Fonte Nova, o preço dos ingressos, a cerveja dentro do estádio, o acarajé na porta dele… mas a discussão precisa ser muito maior. E, infelizmente, é preciso quebrar uma cultura enraizada na organização do futebol baiano. Não dá para se repetir cenas como a da última sexta-feira. A forma de se vender ingressos na Bahia precisa mudar.
O jogo Brasil x Itália, pela Copa das Confederações, já teve todos os seus ingressos vendidos. Todos pela internet. Sem filas, sem confusão, sem estresse. Salvo as quedas do servidor da Fifa, que sofreu uma sobrecarga jamais vista em compra de bilhetes para seus eventos, foi tudo dentro da normalidade. É difícil fazer isto em jogos comuns?
Não cola mais a desculpa de que boa parte da população não tem acesso à internet. As camadas sociais mais inferiores, hoje, representam grande parcela dos acessos à rede mundial de computadores. Reservar seu ingresso pela internet, pagar com boleto bancário ou cartão de crédito e retirá-lo depois é uma saída viável. Nos cinemas, que possuem ingressos mais baratos que nos jogos de futebol, isto funciona perfeitamente. Não é questão de classe social, e sim de cultura.
Criar alterativas mais acessíveis para a associação também é algo que precisa ser visto pelos clubes. A comodidade na compra de ingressos pode ser dada tanto aos nobres das classes A e B como aos modestos das outras classes. Cada cidadão tem seu limite de contribuição, e esta expectativa precisa ser atendida. Não se pode confundir nível social com intelectual. O futebol propicia que você conheça ainda mais a fundo quem lhe permeia, e os cartolas precisam ter essa sensibilidade.
Que nos próximos jogos possamos ver uma venda de ingressos mais digna. O consórcio que administra a Arena Fonte Nova já deve ter identificado o problema. Porém, junto com os clubes que utilizarão o estádio, precisa ter coragem para quebrar paradigmas.
Em 1950, o Brasil perdeu para o Uruguai na final da Copa, e o episódio ficou conhecido como Maracanazo, pois todos esperavam que a seleção da casa fizesse o seu papel e conquistasse o título. Este ano, em Salvador, a população esperava que a organização na venda de ingressos fosse impecável, nível Copa do Mundo, digno de aplausos. Não foi o que aconteceu. Por isso, Octávio Mangabeira que me perdoe pela escolha do título deste texto.
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