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terça-feira, 5 de março de 2013

Sexo, praia e samba: como o treinador do Shakhtar Donetsk, Mircea Lucescu, descobriu a essência brasileira



Sexo, drogas e rock`n roll.

Ou melhor dizendo, sexo, praia e samba – não se esquecendo, claro, do futebol.

Para o treinador do Shakhtar Donetsk, Mircea Lucescu, essa é a essência do Brasil. No comando do time ucraniano desde 2004, ele pode ter chegado a essa conclusão a partir da convivência com os 15 jogadores que buscou no país desde a sua chegada. Ou com as conversas em português que manteve com cada um deles. Ou ainda com os quase 500 gols que viu o grupo marcar. Pode ter sido um pouco de tudo isso. Mas o começo dessa história passa pelos anos 60 e 70.

O Shakhtar, que decide nesta terça-feira, a partir das 16h45 (de Brasília), contra o Borussia Dortmund, fora de casa, uma vaga nas quartas-de-final da Liga dos Campeões, tem o DNA brasileiro por trás de seu sucesso. Ao todo, são hoje 10 atletas carregando a bandeira verde e amarela em seu elenco – se você considerar Eduardo da Silva, naturalizado croata, seriam 11 –, dois intérpretes à disposição de todos e um olheiro baseado no País.

Mas ainda mais importante que todos esses números, a presença em seu banco de reservas de um técnico que não faz segredo sobre a sua paixão pelo Brasil.

“Ele chegou a falar dela para a gente em algumas oportunidades, mas nunca se aprofundou”, relembra Willian, hoje no Anzhi Makhachkala, ao ESPN.com.br.

Willian e seus ex-companheiros talvez estranhem e até custem a acreditar. No entanto, o mesmo treinador que carrega no dia-a-dia uma feição fechada e proíbe música nos vestiários, antes das partidas, também já teve os seus dias de diversão na noite brasileira.

Em 1967, um agente amigo do ex-presidente da Fifa, João Havelange, ainda a sete anos de assumir o cargo na entidade, intermediou os contatos para que Lucescu e seus colegas da seleção romena disputassem uma série de amistosos Brasil afora, ao longo de mais de um mês. Sem grande conforto, a equipe desbravou o País de Porto Alegre a Fortaleza. O atual comandante do Shakhtar, contudo, quase ficou de fora.

“Tinha 22 anos na época e vinha de um jogo contra a República Democrática do Congo pouco antes do Natal. Fui obrigado a aguardar por três dias em Dakar (Senegal) até que meu visto saísse e pudesse me juntar aos demais. Foi uma experiência extraordinária”, afirma à revista francesa France Football.

Ainda hoje, aos 67 anos, Lucescu guarda as recordações de como se sentiu ao entrar em contato com uma cultura, segundo ele, tão diferente da sua.

“Para um jovem jogador como eu, vindo da Romênia para um país como aquele, você pode imaginar a minha empolgação e como me senti. Descobri ali a essência de cada brasileiro: futebol, samba, praia e sexo. E compreendi por que isso era mais do que suficiente para eles viverem bem. Tudo girava em torno disso. E não se esqueça da cerveja número 1 do país, a Brahma Chopp”, se diverte.

Mais de um mês viajando pelo Brasil acabou não sendo suficiente, entretanto, para o ex-técnico da Inter de Milão e de Ronaldo Fenômeno. Pouco antes do Mundial de 1970, ele e seus companheiros estiveram de volta ao País para disputar um torneio amistoso ao lado de Flamengo, Vasco e Independiente-ARG. No Rio de Janeiro. Em pleno verão. E durante o carnaval. Um pouco demais para a concentração de Mircea Lucescu, capitão romeno. O resultado, ainda assim, acabou não sendo dos piores.

Depois de estrear com uma goleada de 4 a 1 para o Flamengo de Doval, Fio Maravilha e companhia, venceram o Vasco por 2 a 0 e o Independiente por 3 a 0. Arrebataram o segundo lugar no campeonato conhecido como Torneio Internacional de Verão do Rio de Janeiro e, de acordo com Lucescu, o prêmio de melhor jogador foi parar em sua bagagem.

“Foi no Maracanã durante o carnaval, quando tudo para e nada mais parece importar. Me recordo de ter sido votado o craque da competição pelo jornal O Globo. Ainda tenho o troféu em casa até hoje”, diz.

Nesta terça-feira, contra o Borussia Dortmund, o treinador deverá levar a campo um pouco dessa essência que conheceu no Brasil e nunca mais esqueceu. Com a esperança de que os alemães não derramem água em seu chope.


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