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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Em 19 edições, mais de 70% dos times da Superliga tiveram 'prazo de validade': 4 anos


Apontado como o segundo esporte mais popular do Brasil, o vôlei é recordista de medalhas olímpicas pelo país (são 20 ao todo) e é também a modalidade brasileira mais vitoriosa da última década. Ainda assim, os clubes nacionais que ainda investem nesse esporte sofrem com as dificuldades de manterem suas equipes ‘vivas’ por um longo período. Nos últimos 19 anos, desde o surgimento da Superliga Feminina (o ‘Brasileirão’ do vôlei), os times que participaram dela tiveram um prazo de validade: quatro anos.

O ESPN.COM.BR PREPAROU UMA SÉRIE DE MATÉRIAS ESPECIAIS SOBRE A SUPELIGA. A PARTIR DESTA TERÇA-FEIRA ATÉ SEXTA, NOVAS REPORTAGENS SERÃO PUBLICADAS AQUI PARA ABRIR A TEMPORADA, QUE COMEÇA NO DIA 23 DE NOVEMBRO.

"Depois do primeiro ouro olímpico, em 2008, eu até achei que as coisas iriam mudar, mas agora [2012, pós-bicampeonato olímpico] eu nem estou com muita esperança. A gente vê times acabando na Superliga, jogadoras talentosíssimas que ficam sem clube...eu tenho sorte de estar jogando em uma equipe boa, que tem uma ótima estrutura", disse a ponteira e bicampeã olímpica Jaqueline, que atualmente joga pelo Sollys/Nestlé, de Osasco, em entrevista ao ESPN.com.br.

Desde a primeira temporada da Superliga, em 1994, até hoje, 38 equipes já passaram pela competição e nada menos do que 73% delas terminaram em, no máximo, quatro temporadas. Um percentual bastante expressivo, considerando que o torneio feminino não tem segunda divisão e que as equipes precisam ‘apenas’ pagar a inscrição e cumprir o regulamento para estarem aptas a participar.

A taxa da inscrição nem é tão alta (estimada hoje em cerca de R$ 20 mil). Mas os altos valores necessários para manter uma equipe de vôlei em alto nível somados à dificuldade em conseguir patrocinadores para sustentar esses gastos são os principais motivos pelos quais a Superliga 2012/2013 começará, nesta sexta-feira, com dez times, dois a menos com relação à temporada passada. E são essas as razões também para tamanha ‘instabilidade’ em um esporte tão vitorioso.
Divulgação
Zé Roberto aplaude jogada de sua equipe durante o Paulista de vôlei
O Amil, de Zé Roberto, é o único novato nesta Superliga


Para o técnico da seleção brasileira e do recém-formado Vôlei Amil, José Roberto Guimarães, o problema de financiamento dos clubes de vôlei não é uma exclusividade do Brasil e é também um reflexo da economia dos países.

"Hoje, principalmente, isso [clubes acabando] é mundial, não é um 'privilégio' do Brasil fechar um time ou abrir. A Itália tem time que também perdeu patrocíni e teve que fechar as portas. Depende muito de com o vai a economia do país. Acho que o Brasil também passa por esses processos durante o ano, faz parte, a gente já sabe que essas coisas vão acontecer, que existe uma dificuldade mesmo", explicou o treinador, em entrevista ao ESPN.com.br.

Ao todo, 38 times estiveram em quadra em pelo menos uma edição da Superliga e, desses, somente três jogaram todas as 19 temporadas (contando com a que começará nesta semana). Foram eles: Minas (de Belo Horizonte), Pinheiros (de São Paulo) e São Caetano (de São Caetano do Sul). Nove dessas equipes terminaram com a média de apenas um ano de ‘vida’ na competição, participando apenas uma vez dela ou participando uma vez, ficando fora por um ou dois anos e voltando para jogar mais uma temporada antes de encerrar de vez a passagem pelo torneio nacional. E a grande maioria - 28 times (que representam 73% de todos os clubes que já disputaram a Superliga) - durou, no máximo, quatro temporadas.

Essa difícil realidade das equipes brasileiras de vôlei acaba tendo reflexo direto no campeonato, que começou a ser disputado em 1994 com dez times, teve alguns ‘booms’ como em 1997 e também no ano passado, com doze participantes, e chegou a passar por uma fase ainda mais complicada em outras temporadas, como a de 2001/2002, quando teve apenas oito equipes.
Reprodução
Leite Moça: time tricampeão da Superliga
Leite Moça: time tricampeão da Superliga que também acabou

E a ‘crise’ não atinge somente os times de menor expressão, que não conseguem títulos para atrair investimento. A ‘poderosa’ Sorocaba, por exemplo, que tinha estrelas como Ana Moser e que dominou as três primeiras edições da Superliga ficando com o tricampeonato, viu seu patrocinador ‘migrar’ para Jundiaí em 1997 e lá durar somente mais duas temporadas. O Osasco, outra equipe mais do que tradicional na competição, que já teve nomes como Fernanda Venturini e Valeskinha, quase fechou as portas em 2009 por falta de patrocínio.

Neste ano, o torneio que começa nesta sexta-feira, terá ao todo dez clubes, contando que três com relação aos que participaram na última temporada saíram (Vôlei Futuro, de Araçatuba, Mackenzie, de Belo Horizonte, e Macaé) e somente um entrou (o estreante Vôlei Amil, de Campinas). E todas as equipes que ‘fecharam’ as portas após a última temporada ‘reclamam’ da mesma coisa: falta de recursos para manterem os times vivos na Superliga.

O problema mais recorrente é a ausência de um patrocinador ‘master’ para financiar o time em toda uma temporada. E a dificuldade em achar empresas interessadas em investir nas equipes se justifica por outros diversos argumentos: pouca visibilidade, as transmissões são apenas em TV fechada (e sempre omitem o nome da marca), e o valor acaba sendo muito alto por um retorno tão ‘limitado’.

Enquanto isso, os clubes tentam ‘se virar’ como podem buscando apoio de prefeituras ou da própria CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e tentando ‘convencer’ as empresas de que o vôlei será um bom investimento para elas. E, por enquanto, mesmo com as vinte medalhas olímpicas e o bicampeonato conquistado neste ano em Londres, o ‘segundo esporte mais popular do Brasil’ ainda não consegue se firmar completamente no país.

Reuters
Jaqueline e Fabi vibram com ponto na final do vôlei em Londres
O bicampeonato olímpico não mudou a realidade difícil das equipes brasileiras de vôlei

Postado por Juarez Alves
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Fonte: ESPN
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